Alexandre Asquini
O sistema integrado de transporte público da Região Metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, foi um dos destaques da 19ª Assembleia da União Internacional de Transportes Públicos (UITP), Divisão América Latina, realizada nos dias 10 e 11 de novembro de 2022.
A agenda do encontro também incluiu sessões específicas sobre os seguintes temas: Dimensão social e econômica para o desenvolvimento da mobilidade, Inovação em mobilidade e impacto de curto prazo, Importância para a mobilidade dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e Políticas de gênero e diversidade, considerando as mulheres na mobilidade.
As sessões expositivas aconteceram no primeiro dia do encontro, desenvolvidas na sede do governo estadual, o Palácio Anchieta, localizado no centro da cidade.
Na manhã do segundo dia, 11 de novembro de 2022, foram realizadas visitas técnicas, com as seguintes atividades: Visita à Ciclovia da Vida – Terceira Ponte, Obras no terminal marítimo de passageiros – embarque de balsas, Terminal Rodoviário, com observação do sistema eletrônico de pagamento. Os participantes da visita técnica foram transportados com o novo ônibus elétrico da Transcol (Caio/Mercedes-Benz/Weg/Eletra).
Desde 2018, o Governo do Estado do Espírito Santo é membro ativo da UITP América Latina por meio da Secretaria de Mobilidade e Infraestrutura.
As sessões foram registradas em um único vídeo disponibilizado pelo link ao final deste parágrafo. Para facilitar a referência, este texto indica o ponto exato do vídeo em que cada tópico começa.
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SESSÃO INAUGURAL
O governador do Estado do Espírito Santo, José Renato Casagrande [0:06:15] fez o primeiro pronunciamento na manhã do dia 10 de novembro, na abertura oficial da Assembleia.
Ele destacou a importância de sediar o evento da UITP em seu estado. “É fantástico poder receber eventos internacionais como este, pois estamos sempre em busca de soluções para melhorar a mobilidade e o transporte público”, disse.
Ele também enfatizou a importância econômica e ambiental dos sistemas de transporte público. “Quanto mais gente usar, mais capacidade de investimento teremos. Também temos que discutir a preservação do meio ambiente, porque quanto mais pessoas usarem o transporte público, menos carros teremos nas ruas”.
A apresentação foi seguida por uma mensagem gravada de Mohamed Mezghani [0:15:43], secretário-geral mundial da UITP.
Destacando o investimento no transporte público como uma vantagem do ponto de vista do desenvolvimento da economia local, da saúde da população e da proteção do meio ambiente, Mezghani defendeu que o transporte público seja pensado como algo que é muito mais do que transportar pessoas do ponto A ao ponto B. “Temos que oferecer transporte público confiável e eficiente como um direito humano básico.”
Em um primeiro pronunciamento, Ester Litovsky [0:24:55], presidente da Divisão América Latina da UITP, destacou o papel de eventos como a 19ª Assembleia para a disseminação do conhecimento sobre o setor de mobilidade e para a conscientização sobre a importância da mobilidade sustentável. No final do dia, Ester Litovsky [8:03:38] fez um pronunciamento de encerramento, avaliando o encontro.
O diretor sênior de Crescimento Global da UITP, Kaan Yildizgoz [0:33:40], esteve presente em Vitória com uma conferência em inglês, na qual sublinhou que os transportes públicos transbordam de renovadas ambições, determinados a promover um futuro mais inclusivo, mais verde e mais conectados para a mobilidade urbana em todo o mundo.
Yildizgoz também apresentou e discutiu o que descreveu como três lições da crise da pandemia: o transporte público é um serviço essencial, é um serviço vulnerável e subvalorizado.
REGIÃO METROPOLITANA DE VITÓRIA
A primeira mesa do encontro tratou do tema Região Metropolitana da Grande Vitória, um caso de sucesso de mobilidade. Inicialmente, o assessor Roberto Sganzerla [0:51:01], especialista internacional em Marketing e Comunicação, apresentou os aspectos visuais e mercadológicos do projeto Grande Vitória Sistema Integrado.
Fábio Ney Damasceno [1:02:47], secretário de Mobilidade e Infraestrutura do Espírito Santo, mostrou diferentes aspectos da concepção do projeto, explicando que o sistema metropolitano integrado compreende sete municípios, que concentram 48% do PIB do Estado de Espírito Santo: a capital, Vitória, e também Guarapari, Vila Velha, Viana, Cariacica, Serra e Fundão.
Entre outros pontos, Damasceno destacou que os conceitos ESG foram adotados como premissas do projeto, e que o sistema foi pensado para ser consistente, sustentável, humano, integrado, equilibrado financeiramente, executável em termos de projetos, obras e ações, operável no longo prazo, com a implementação de tecnologias a favor da mobilidade e conceitos de MaaS (Mobility as a Service) e soluções para mobilidade na primeira e última etapa da viagem.
A última explanação desse painel foi feita por Murilo Lara [1:26:18], membro do Comitê Executivo do GVBus – Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória, e tratou da participação das operadoras no projeto.
Em seguida, outro painel também tratou do projeto Grande Vitória – Sistema Integrado, com temas relacionados à integração de diferentes tecnologias. Participaram: Romano Garcia [1:34:14], diretor do Latam Goal System; Luiz Eduardo Lozer [1:39:23], diretor técnico da Geocontrol e Renato Mastro [1:52:26], executivo do Grupo Tacom, responsável pelo aplicativo Kim.
As sessões focalizaram quatro temas
Durante o resto da manhã e da tarde decorrerão quatro sessões de debate e conferências online.
DIMENSÃO SOCIAL E ECONÔMICA
A Sessão 1 – A dimensão social e econômica para o desenvolvimento da mobilidade foi coordenada pelo engenheiro e professor brasileiro Jurandir Fernandes [2:08:19], membro honorário da UITP.
Fernandes fez um balanço sobre a situação da mobilidade após a pandemia, com base no qual dirigiu perguntas específicas aos demais participantes da sessão: Fabio Silveira Ribeiro [2:22:05], executivo de Desenvolvimento de Negócios da CCR; Maína Celidonio [2:32:58], secretária de Transportes do Rio de Janeiro;
Nicolás Rosales [2:44:33], presidente da Associação Mexicana de Transporte e Mobilidade (AMTM), y Paulo Labate [2:54:13], subdiretor de Operações do Metrô de São Paulo.
METRÔ DE MEDELLÍN
Tomás Elejalde [3:05:27], diretor-geral do Metrô de Medellín, discutiu o custo de não inovar. Ele destacou o propósito da inovação de fazer coisas novas e encontrar novas formas de fazê-las, de construir de forma colaborativa e aberta, de contribuir para o cumprimento dos objetivos da organização, geração de valor e sustentabilidade.
Enfatizou que inovação significa sobrevivência. E também apresentou um projeto de inovação que permite ao Metrô de Medellín trocar uma viga estrutural dos trens quase no final da útil, permitindo que sejam utilizados por mais 25 anos, significando uma economia de 80 milhões de euros.
INOVAÇÃO EM MOBILIDADE
Eleonora Pazos, diretora da UITP América Latina e o consultor Roberto Sganzerla conduziram a Sessão 2 – Inovação em mobilidade e impacto de curto prazo.
Ao responder a uma pergunta sobre quais inovações têm maior impacto na mobilidade, Rafael Teles [4:43:14], diretor de Produtos da Transdata, afirmou: “Neste momento, as inovações com maior impacto na mobilidade estão fora dela. São essas inovações que estão mudando os hábitos e o comportamento das pessoas – como o home office e diversos serviços digitais que estão afetando a demanda, assim como o esforço das cidades para se tornarem cidades de 15 minutos”.
Ricardo Portolan [4:48:50], diretor da Marcopolo, falou sobre as inovações introduzidas na fábrica da Marcopolo, no Espírito Santo, que permitiram à unidade atingir o patamar de produção de 21 ônibus por dia. Ele também abordou o tema da eletromobilidade, destacando o movimento de muitas cidades em adotar esse tipo de tecnologia de tração. Ele mencionou que a Marcopolo desenvolveu seu ônibus elétrico adaptado à realidade da América Latina.
O engenheiro civil da Scipopulis Bruno Maximino [4:54:26] disse que sua organização é uma startup que trabalha na pesquisa e preparação de dados para as cidades, mas também tem foco na mobilidade urbana, servindo a cidades de 50 mil a 12 milhões de habitantes. “As cidades não estavam preparadas para enfrentar essa dinâmica, principalmente pela falta de acesso aos dados, de poder trabalhar com dados e gerar indicadores, ou seja, ter inteligência por trás dos dados para poder enfrentar o efeito da pandemia. Trabalhamos com a integração de dados de mobilidade, socioeconômicos, meteorológicos, de segurança, enfim, tudo que possa influenciar na mobilidade urbana, para que os gestores públicos possam planejar, gerir e operar melhor o sistema de mobilidade das cidades”.
SANTIAGO E MONTEVIDÉU
A diretora de Transporte Público Metropolitano do Ministério de Transporte e Telecomunicações do Chile, Paola Tapias [5:17:17], fez uma apresentação sobre a Rede de Mobilidade Metropolitana de Santiago, com foco em temas como inovação e sustentabilidade.
Marcelo Gargaglione [5:34:50], do Departamento de Estudos de Mercado da CUCSA, empresa operadora de transporte público em Montevidéu, falou sobre o desafio da eletrificação na capital uruguaia, destacando o compromisso com o meio ambiente, sob critérios de sustentabilidade, incluindo economia, sociedade e ambiente.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Sob a coordenação de Elonora Pazos, desenvolveu-se a Sessão 3 – Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o impacto na mobilidade, que buscou uma visão global das políticas de desenvolvimento urbano, análise institucional e questões de investimento e eletrificação.
Milena Braga Romano [5:50:28], CEO da Eletra – empresa brasileira que há mais de 30 anos desenvolve e integra sistemas de tração para ônibus e caminhões elétricos –, disse em sua participação que ficou feliz porque o Brasil evoluiu muito rapidamente nos últimos dois anos para a eletrificação da mobilidade e a vontade de governos e empresas em promover e fazer essa mudança acontecer.
Milena apresentou uma sugestão: “É preciso pensar em um tripé: um modelo de negócio pensando primeiro no financiamento, já que é um investimento muito alto, quase três vezes o valor de um veículo a diesel; pensando na infraestrutura, no essencial, nos carregadores, na disponibilidade de energia e na questão dos contratos, sendo uma coisa que está amadurecendo no Brasil”.
Leonardo Cordeiro [5:57:04], sócio do escritório Cordeiro & Lima, comentou aspectos dos modelos de montagem para sistemas de transporte elétrico em Santiago do Chile e Montevidéu, cujas apresentações foram feitas antes da sessão. E avaliou as perspectivas para o caso brasileiro, com sugestões para que se obtenha um quadro de maior segurança jurídica.
Patricia Siqueira [6:05:17] fez uma apresentação acompanhada de slides, mostrando o trabalho desenvolvido pela DS Ambiental – Treinamento e Gestão, empresa da qual é CEO.
A pesquisadora da Diretoria de Segurança no Transporte do Ministério dos Transportes da Argentina, Laura Dobruskin [6:32:12] fez uma apresentação sobre o propósito das lições aprendidas no sistema de transporte argentino, segundo pesquisas sobre a gestão da crise e os riscos associados à pandemia de coronavírus.
MULHERES E MOBILIDADE
Valeska Peres Pinto [7:23:00], coordenadora do Programa de Melhores Práticas de Mobilidade Urbana da UITP América Latina, conduziu a Sessão 4 – Impacto das políticas de gênero e diversidade – as mulheres em que se buscou estabelecer um balanço do que aconteceu em últimos anos para identificar os desafios que terão de ser enfrentados nos próximos anos em relação a esta questão.
A sessão foi aberta por Jacqueline Moraes [6:56:54], vice-governadora do Estado do Espírito Santo, que fez a primeira apresentação, intitulada Mulher e mobilidade urbana, na qual, além de se manifestar como autoridade, ela mostrou sua experiência como usuária do transporte público urbano.
Participaram da sessão, com informações e opiniões sobre as respectivas organizações, Jamila, do Grupo Metropol [7:29:40]; a especialista em Relações Institucionais do Metrô do Rio de Janeiro, Seiva Emanuel [7:35:23]; Andrea Contreras [7:41:55] responsável pela Secretaria Geral da Associação Latino-Americana de Metrôs e Ferrovias Subterrâneas (ALAMYS), e Richele Cabral [7:46:38], diretora de Mobilidade Urbana da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor).