Especialista da América Latina aponta os caminhos para que as cidades facilitem as interações entre as pessoas
09/11/2022
Mobilidade humana é aquela que promove o desenvolvimento de cidades prósperas, considerando o fortalecimento entre o planejamento do uso do solo e a mobilidade. Segundo Eleonora Pazos, diretora da União Internacional de Transporte Público (UITP) América Latina, o planejamento integrado do uso do solo e da mobilidade, que permite o desenvolvimento de cidades em torno de caminhadas, ciclismo e transporte público, é fundamental para criar cidades sustentáveis, inclusivas e resilientes.
De acordo com a especialista, é importante entender e melhorar a interação entre o transporte público e os usos do solo para criar uma abordagem integrada e holística para o planejamento e o progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Para isso, o poder público e privado precisam ainda de muita atenção a respeito da necessidade de integrar planejamento territorial e a mobilidade para alcançar cidades mais prósperas e sustentáveis.
Cidades existem para permitir interações humanas
A forma e a densidade de uma cidade determinam o nível da facilidade com que estas interações ocorrerão, segundo Pazos. A especialista acredita que, quanto mais densa, compacta e conectada é uma cidade, mais fácil será para seus habitantes realizarem negócios, trocarem ideias e conhecimentos, inovarem e aumentarem a produtividade econômica e o bem-estar social.
– As cidades prósperas têm sido tradicionalmente as de alta densidade, onde as interações e conexões são simples, onde as pessoas têm fácil acesso a serviços básicos, empregos, escolas, atividades de lazer e negócios – avalia Pazos.
A especialista afirma que, ao analisar as mudanças em torno da mobilidade nos últimos 20 anos, é possível observar que as cidades mais antigas estão retornando às soluções que estavam em alta no início do século 20, focadas no transporte de massa, com sistemas de ferrovias, metrô, ônibus e Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), visando diminuir as consequências negativas do tráfego de automóveis nas cidades e desenvolver modos de transporte sustentáveis.
Pazos avalia que as mudanças tecnológicas e sociais criam oportunidades, mas também colocam novos desafios aos quais a sociedade deve se adaptar, como a competição pelo espaço público, a micromobilidade, a ascensão do comércio eletrônico e as preocupações com a privacidade.
– Essas novas tendências pressionam o setor de transporte público e aumentam a volatilidade do mercado de mobilidade. As cidades devem aplicar uma abordagem integrada ao uso do solo e ao planejamento da mobilidade em resposta aos ODS e avançar para áreas urbanas mais inclusivas, habitáveis e economicamente competitivas – completa a especialista.
Cidades existem para permitir interações humanas
Algumas alternativas ou a integração delas pode auxiliar na busca por uma mobilidade mais humana nos municípios, incluindo em Santa Catarina. Pazos destaca algumas soluções que foram consideradas sucesso:
- Estações de ônibus para logística urbana
A combinação de atividades constitui uma solução inovadora para alcançar cidades mais sustentáveis. Com foco em ser uma cidade “de quinze minutos”, onde as pessoas possam se locomover para suas principais funcionalidades neste tempo, a capital francesa tem adotado medidas integradas. Em Paris, a Régie Autonome des Transports Parisiens (RATP) está em processo de otimização do uso de suas 25 estações de ônibus, com integração das atividades de logística urbana em tempo parcial. Todas as estações possuem instalações adequadas e localização privilegiada dentro de áreas urbanas densas, além de ser facilmente acessível.
– Um experimento confirmou a possibilidade de combinar as duas atividades sem comprometer a segurança e a eficiência do transporte público. Durante o dia, cerca de 3.000 m2 de espaço são destinados às atividades de logística. A entrega final da mercadoria é realizada com veículos elétricos ecológicos – afirma a especialista
- Integração de empreendimentos imobiliários e transporte público
Em cidades com modelos de negócios altamente comerciais, como os de Cingapura, Hong Kong ou Tóquio, o desenvolvimento imobiliário e o desenvolvimento do transporte público são integrados e vinculados em um contrato específico, de acordo com Pazos A especialista acredita que essa integração pode ser gerida de forma privada ou com forte participação da autoridade responsável pelo desenvolvimento de algumas partes de uma cidade, o que exige comprometimento com o planejamento urbano estratégico precoce para que todos os empreendimentos integrem o uso da terra e o transporte. A especialista exemplifica o caso de Cingapura, com os hubs Clementi ou Dhobi Ghaut, onde foi adotada uma abordagem mais integrada para projetar projetos de desenvolvimento urbano em torno dos hubs de transporte.
- Quais as recomendações
Para criar áreas urbanas saudáveis, inclusivas, economicamente competitivas e neutras em carbono, as cidades devem ter um planejamento integrado de uso do solo e mobilidade, segundo Pazos. A especialista detalha que isso envolve a construção de apoio e compromisso político entre partidos, reforçando as visões e políticas da cidade para deixar claro que o único meio para um futuro sustentável é intensificar nossa determinação de criar cidades baseadas em caminhadas, ciclismo e transporte público.
– Isso também significa reforçar e manter a prestação de serviços básicos e a coordenação entre as autoridades municipais, para que essas políticas sejam eficazes no desmame das cidades da dependência do carro particular – completa.
