Confederação Nacional de Municípios aponta ainda que o impacto negativo é infinitamente superior aos ganhos gerados com essa política industrial
Cristiane Noberto
Um estudo, divulgado nesta sexta-feira (22), pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), mostra que o programa de incentivos à compra de carros do governo federal gerou um impacto negativo na mobilidade urbana.
A entidade aponta que a política industrial brasileira sempre teve como base de sustentação a produção em massa de automóveis, oferecendo mais incentivos e medidas a esse setor, do que para mobilidade urbana nos municípios e estados.
A medida de incentivos para venda de carros foi anunciada pelo governo em maio. A estimativa do Ministério Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços é que tenham sido comercializadas 125 mil unidades com descontos entre R$ 2 mil e R$ 8 mil para veículos de até R$ 120 mil. Desses, 95 mil foram adquiridos por pessoas físicas.
“Ou seja, a concepção errática da política de incentivo exacerbado da frota de veículos em detrimento de transporte público coletivo e outros modos sustentáveis levaram o país ao colapso no trânsito e a todas as consequências desastrosas que os municípios enfrentam no dia a dia”, diz o capítulo introdutório do estudo.
A CNM defende que os incentivos deveriam ser direcionados à frota nos municípios, e aponta ainda que o impacto negativo é infinitamente superior aos ganhos gerados com essa política industrial.
“Só para se ter uma ideia, uma estimativa feita em 2014 por Vianna et al (2016) mostra que as perdas econômicas por problemas de mobilidade urbana estão estimadas em aproximadamente R$ 247,2 bilhões. É um valor significativo, que poderia resolver diversos problemas de deslocamento e circulação”, aponta a entidade.
O documento ainda aponta que, em 10 anos, houve um crescimento de 35% de carros nas cidades: em 2013, havia 80 milhões de carros particulares, já em 2023 são cerca de 120 milhões do modal.
No levantamento, o estado de São Paulo possui a maior frota de automóveis do país, com 19,86 milhões, correspondendo a 32,47% do total. O segundo lugar encontra-se ocupado pelo estado de Minas Gerais, com 11,56%, seguido do estado do Paraná, com 8,10%.
Quanto aos municípios, o top três de capitais que ocupam o ranking são: São Paulo, que concentra 10,10% de toda a frota de automóveis do Brasil, Rio de Janeiro, com 3,50%, seguida por Belo Horizonte, com 2,79% da frota.
Os números também expõem que a população tem preferência por uso de carro particular. Aproximadamente 52% da população prefere esse modal. Na sequência, vem a preferência por moto, com 28%, enquanto o ônibus representa apenas 1% da preferência das pessoas.
“Apesar de representar somente 1% da frota, o ônibus tem uma participação na distribuição de viagens (quantidade de passageiros transportados no sistema/dia) em torno de 24% a 26%, um pouco menos do automóvel e moto, ambos com capacidade de carregamento de 28% e 4% respectivamente”, diz trecho do estudo.
“É preocupante o aumento de veículos nas ruas que são responsáveis pela poluição, prejudicam a saúde da população, trazem outros transtornos no trânsito, além do impacto financeiro nos Municípios, que na maioria das vezes não têm estrutura para receber esse fluxo intenso”, destaca o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.