ALEXANDRE PELEGI
O Diário do Transporte conversou com Ronen Avraham, Gerente-Geral da Optibus para a América Latina, sobre o papel crucial da inteligência artificial na modernização do transporte público na região. A entrevista abordou os principais desafios e oportunidades da adoção de tecnologias inovadoras, a visão da Optibus para o futuro da mobilidade inteligente e a importância de equilibrar a disrupção tecnológica com a continuidade operacional.
Leia a seguir a entrevista completa:
Diário do Transporte: Ronen, é fascinante ver como a tecnologia vem ganhando espaço em setores tão tradicionais. E no transporte público, como a Inteligência Artificial (IA) pode impactar o dia a dia das operações?
Ronen Avraham: Acreditamos que a inteligência artificial tem o poder de transformar a mobilidade urbana, tornando-a mais eficiente e centrada nas pessoas. Ao substituir processos manuais e sistemas antigos ou legados por algoritmos avançados, conseguimos criar escalas otimizadas de veículos e motoristas e isso se traduz em redução de custos operacionais, mais pontualidade e um serviço mais previsível e acessível para todos.
Diário do Transporte: E quais resultados práticos isso traz para operadores e passageiros?
Ronen Avraham: Com uso de aprendizado de máquina (Machine learning), conseguimos prever padrões de demanda e ajustar a operação em tempo real. Isso melhora diretamente a experiência dos usuários. Na prática, operadores e autoridades relatam ganhos como a diminuição do tempo de planejamento e uma gestão mais eficiente. A digitalização também contribui para uma gestão sustentável e transparente, tanto por parte de operadores, como agentes públicos, com menos desperdício, melhor uso de recursos e mais inteligência na tomada de decisão.
Diário do Transporte: Qual é o papel da tecnologia nesse novo cenário da mobilidade urbana?
Ronen Avraham: Antes de tudo, é importante reforçar que a IA não vem para substituir os profissionais, e sim para potencializar suas capacidades. A tecnologia torna-se uma aliada estratégica, permitindo que gestores e planejadores foquem em melhorias contínuas e inovação. Na Optibus, acreditamos que a missão da tecnologia é apoiar operadores e autoridades a oferecer um transporte mais confiável, ágil e conectado às reais necessidades da população.
Diário do Transporte: Parece promissor, mas nem sempre é um caminho simples. Quais são os principais desafios da Optibus ao implementar essas soluções no Brasil e na América Latina?
Ronen Avraham: Embora haja consciência sobre a importância da inovação, a adoção de novas ferramentas ainda enfrenta certa resistência. Muitas vezes, isso está ligado a fatores culturais, receio diante do novo e dúvidas sobre o retorno do investimento. Há também preocupações com a integração de tecnologias modernas a sistemas legados e a adaptação às normas regulatórias. Mas temos visto avanços — há um movimento crescente, por parte das autoridades, em direção à inovação. Trabalhar lado a lado com operadores e agentes públicos, apresentando casos de sucesso, tem sido essencial para acelerar essa transição.
Diário do Transporte: E como lidar com essa resistência num setor que está acostumado há tanto tempo com os mesmos processos?
Ronen Avraham: Há uma frase bastante conhecida que diz: “loucura é fazer sempre as mesmas coisas e esperar resultados diferentes”. Mudar é desafiador, mas absolutamente necessário. Nosso papel é mostrar, de forma clara, os benefícios tangíveis que a transformação digital traz. Com demonstrações práticas, treinamentos e projetos bem-sucedidos, conseguimos ilustrar que a IA não é uma tendência passageira — é uma ferramenta que traz economia de tempo, eficiência operacional e melhor qualidade de serviço para os passageiros.
Diário do Transporte: Olhando para o futuro, como a Optibus enxerga a mobilidade inteligente na América Latina nos próximos anos?
Ronen Avraham: Acreditamos que, nos próximos cinco anos, o transporte público na região passará por uma transformação profunda, impulsionada pela digitalização, conectividade e inteligência artificial. Cidades vão adotar soluções baseadas em dados para otimizar suas redes — ajustando horários e rotas em tempo real e promovendo a integração entre diferentes modais. Além disso, o uso de tecnologias preditivas permitirá um planejamento mais preciso, evitando gargalos e melhorando a alocação de recursos. Tudo isso contribui para um sistema mais ágil, sustentável e centrado no passageiro. A Optibus está comprometida em liderar esse movimento, ajudando operadores a oferecer um serviço moderno, eficiente e preparado para o futuro.
Diário do Transporte: E como a sustentabilidade entra nessa equação? A tecnologia também contribui nesse sentido?
Ronen Avraham: Sem dúvida. A tecnologia tem um papel fundamental na promoção da sustentabilidade. A digitalização do transporte público permite uma operação mais eficiente, com menos desperdício e melhor aproveitamento dos recursos disponíveis. Além disso, a transição para veículos elétricos e tecnologias limpas deve se intensificar nos próximos anos, acelerando o avanço rumo a uma mobilidade mais sustentável. Um exemplo inspirador é o caso de Santiago, no Chile, onde a DTPM — autoridade responsável pelo transporte público — já opera uma das maiores frotas elétricas do mundo, mais de 2500 ônibus elétricos – de um total de 7 mil ônibus. Toda a rede utiliza a tecnologia da Optibus para garantir uma gestão inteligente e eficiente desses veículos. Santiago está profundamente comprometida com a descarbonização do transporte, e temos orgulho de apoiar essa jornada com soluções que contribuem diretamente para esse objetivo.
Diário do Transporte: Para finalizar, sabemos que o transporte público é essencial para o funcionamento das cidades. Como inovar sem comprometer a operação que precisa continuar diariamente?
Ronen Avraham: Esse é, de fato, o grande desafio. O segredo está em adotar uma transformação planejada e gradual. A inovação não precisa ser uma ruptura brusca, mas sim um processo que evolui junto com as necessidades da operação. Quando feita de forma estratégica, a modernização não só mantém a continuidade do serviço, como eleva seu nível. Vemos exemplos concretos, no Brasil e em toda a América Latina, de operadoras que apostaram em inteligência artificial e colheram ótimos resultados. A inovação, quando bem conduzida, é uma grande aliada da eficiência, da competitividade e do serviço prestado à sociedade.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes